Marco Damiani _247 – Nesta semana especialmente agitada quanto aos preparativos do Brasil para a Copa de 2014 e do Rio para as Olimpíadas de 2016, ganharam máxima nitidez as diferenças de relacionamento entre as autoridades nacionais e os chefes dos organismos esportivos que detém o controle sobre os dois eventos esportivos. Tudo vai mal entre o Brasil e a Fifa. Nunca foi tão forte como agora o amor entre o Rio e o Comitê Olímpico Internacional.
Como a intenção, nas duas situações, é se trabalhar em parceria, pelo benefício dos megaeventos em jogo, vale dizer que o Brasil tem, neste momento, muito mais a aprender com o que está sendo feito no Rio, do que o Rio receber lições do Brasil.
Para receber durante três dias, entre a terça 6 e a quinta 8, uma delegação de alto nível do COI, a administração da cidade se preparou para todos os momentos da agenda. Entre a aterrissagem e a decolagem da delegação no Rio, liderada pela marroquina Nawal El Moutawakel, presidente da comissão de coordenação do COI para os Jogos de 2016, realizou-se uma reunião de trabalho com a revisão do já foi feito e o que vem pela frente, o Parque dos Atletas foi entregue à população – num adiantamento de sete meses em relação ao prazo prometido --, deu-se a escolha da empresa que construirá o campo de golfe dos Jogos e, ainda, lançaram-se as bases do Porto Olímpico – obra que, como mostram os projetos, transformará radicalmente, para melhor, a zona portuária da cidade. Nenhum minuto foi perdido, nenhuma rusga entre os dois lados, anfitriões e visitantes, aconteceu. Ao contrário. O que se pode perceber é que, como dizem na praia, pintou um clima de encantamento.
“Recebi um presente maravilhoso no Dia Internacional das Mulheres”, fez questão de registrar, num largo sorriso, a chefona do COI, pronta para se tornar mais uma admiradora do Rio. Ela se referia não apenas ao vistoso buquê de rosas vermelhas entregue pelo prefeito Eduardo Paes, mas, igualmente, ao fato de ter verificado pessoalmente o adiantamento das obras no Parque dos Atletas, presenciado a definição da empresa americana Hanse Golf Course Design como responsável pela construção do campo de golfe e participado do lançamento do projeto Porto Olímpico. “Tenho certeza de que haverá um forte impacto, não só na Zona Portuária, mas em toda a região do Rio”, disse Nawal.
Enquanto isso, no plano nacional...
Satisfeito com os preparativos do Brasil para a Copa de 2014 é tudo o que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, não está. A partir da Inglaterra, durante reunião anual do International Board, na sexta 2, ele disparou as frases que arrastariam a seu pior momento o relacionamento desde sempre conturbado entre o Brasil e a entidade que detém os direitos sobre a Copa. “Não entendo por que as coisas não estão avançando. Os estádios não estão mais no prazo, e por que muitas coisas estão atrasadas? A preocupação é que nada é feito ou preparado para receber muita gente. Lamento dizer que as coisas não estão funcionando no Brasil", discursou ele. Neste contexto, dirigindo-se a delegados brasileiros presentes, soltou a frase lapidar: "Vocês precisam se pressionar, levar um chute no traseiro e fazer a Copa do Mundo."
O ministro do Esporte, Aldo Rabelo, rebateu na mesma hora, e em melhor tom. Anunciou o veto a Valcke como interlocutor com o Brasil daquele momento em diante, e esperou as reações do adversário. Os pedidos de desculpas vieram durante a semana, com o próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, articulando uma visita pessoal ao Brasil para fazer o mea culpa em nome do chefiado Valcke. Na quinta 8, finalmente, enquanto, no Rio, Nawal recebia rosas de Paes, Aldo divulgava a carta de duas linhas que enviara a Valcke, secamente aceitando suas desculpas. Nada mais dispare.
Os paradoxos exibidos nos últimos dias confirmaram a certeza de que o relacionamento entre o Brasil e a Fifa é tenso, áspero e desencontrado, enquanto ficou claro a olho nu, no tocante ao diálogo entre o Rio e o COI, que a fluidez nos entendimentos é real, dinâmica e produtiva. Se as autoridades encarregadas de tocar os negócios da Copa de 2014 começarem a observar sem ciúmes o que se está fazendo no Rio pelas Olímpiadas de 2016, certamente a organização do Mundial sairá ganhando.
Abaixo, notícia da Agência Estado sobre o encerramento da visita da delegação do COI ao Rio:
AE - A prefeitura do Rio de Janeiro assinou nesta quinta-feira um termo de compromisso para a construção de dois mil apartamentos que vão receber as vilas de árbitros e mídia não credenciada durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Os imóveis serão os primeiros a ser erguidos na “nova” Zona Portuária - agora chamada de “Porto Maravilha” -, área degradada do Centro do Rio que está sendo revitalizada, a exemplo de Stratford, em Londres, onde foi construído o Parque Olímpico dos Jogos deste ano.
“Sob o ponto de vista do interesse da cidade, este é o momento mais importante da Olimpíada”, disse o prefeito Eduardo Paes. “Quando ganhamos a candidatura para sediar os Jogos, tenho certeza de que não foi porque o estádio de natação era mais bonito que o de Chicago ou Madrid”, afirmou. “O que sensibilizou a todos do Comitê Olímpico Internacional (COI), foram as transformações que aconteceriam na cidade”.
O termo de compromisso foi firmado com a Caixa Econômica Federal que detém todos os Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPAC) do Porto Maravilha e o consórcio de empresas Solace, que vai construir os apartamentos. Após 2016, as unidades (distribuídas em 16 prédios, em terreno ao lado da rodoviária do Rio de Janeiro) vão ser vendidas prioritariamente a servidores municipais, por meio de financiamento da prefeitura.
O acordo também prevê a construção de dois hotéis, cada um com 500 quartos, e um centro de convenções. O consórcio pode construir outras unidades residenciais, mas só tem direito a comercializá-las depois que todas as duas mil iniciais forem vendidas. “Se estamos fazendo uma transformação no Rio, é esta”, disse Eduardo Paes.
Antes de viajar para Brasília, onde foi recebida pela presidente Dilma Rousseff, a presidente da comissão de coordenação do COI para os Jogos de 2016, a marroquina Nawal El Moutawakel, afirmou ter recebido um “presente maravilhoso no dia internacional das mulheres”. “Tenho certeza de que haverá um forte impacto, não só na Zona Portuária, mas em toda a região do Rio”, disse.
"Em 24 horas, presenciei dois eventos históricos", afirmou. Na última quarta, a presidente participou do anúncio da empresa vencedora do concurso para construção do campo de golfe para 2016. O esporte voltará aos Jogos após 112 anos.
Terminou nesta quinta a visita de representantes do COI ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento das obras. “Tenho dito que o Rio será a cidade de maior transformação da história dos Jogos Olímpicos, de todos os tempos”, disse o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman.
Fonte: Brasil 247
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