Maior ciclo de investimentos em 40 anos será teste para o Brasil
O Brasil vive o maior ciclo de investimentos dos últimos 40 anos e em 2012 deverá viver o primeiro ápice desse ciclo com a aceleração das obras e projetos de infraestrutura com vistas à realização a Copa do Mundo em 2014.
O segundo ciclo dessa mesma fase de grandes investimentos será vivido pelo País às vésperas dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Essa foi uma das principais conclusões do debate "Macroeconomia global: O Brasil da Copa e das Olimpíadas", promovido nesta quarta-feira pelo portal iG, dentro da programação do iG Digital Day, realizado na capital paulista no evento Digital Age. As apresentações foram mediadas pelo colunista do canal de Economia do iG, o jornalista Guilherme Barros.Segundo os participantes do evento, o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, e o professor José Márcio Camargo, da Pontifícia Universidade Católitca do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e economista da Opus Investimentos, esse movimento poderá, em parte, contribuir para mitigar alguns dos possíveis efeitos da crise que afeta as principais economias maduras, como Estados Unidos e os países da zona do euro, mas também será um teste importante para o Brasil já que haverá uma maior demanda por insumos importantes para este processo como capital e mais força de trabalho.
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"O Brasil cresceu muito nos últimos anos, devido a grande capacidade ociosa, saldo do período de ajustes pelo qual passou a economia", afirmou Camargo. "A expectativa de inflação está se deteriorando rápido e isso preocupa. Com mais investimentos e o mercado de traballho aquecido, temos que estar preparados para viver numa economia com um pouco mais de inflação do que a normalemnte aceita nos últimos anos" acrescentou o professor da PUC-RJ.
"É difícil afirmar que teremos pressões inflacionárias adicionais. Em 2012 haverá um ápice dos investimentos para a Copa. No mercado de trabalho a oferta cresce mais que a capacidade de contratação das empresas. Mas o mundo, pelas projeções, deve crescer menos nos próximos e pode nos ajudar a temperar essa pressão na inflação", avaliou o economista-chefe do Bradesco.
FMI e crise
Os dois economistas, que estiveram na reunião conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington, na semana passada, afirmaram que pela primeira vez o foco dos debates não foi o mundo emergente, mas sim os Estados Unidos e a Europa, os atores principais que vivem essa segunda fase da crise financeira global, iniciada em setembro de 2008, de forma mais aguda.
De acordo com Barros, do Bradesco, debateu-se muito sobre a turbulência econômica na Europa, cujo fio condutor do estresse foi uma hesitação em resolver os problemas da Grécia, que representa apenas 2% da economia da zona do euro e cujo principal produto econômico é o turismo." A Europa vive uma experiência inédita e por isso não sabem lidar com a crise. Nós aqui sabemos e estamos calejados em lidar com crises", disse.
"Os mercados vão continuar ansiosos. A crise é complexa, mas não ecatombica. Ela vai tirar de 1% a 1,5% do cresicmento mundial, principalmente das economias masi maduras, por uns dois a três anos. Mas as autoridades precisam agir. À medida que se aproximam do abismo a busca pela saída passa a ser mais urgente", afirmou durante o debate.
Na avaliação do professor Camargo, da PUC-RJ, no caso americano, o governo está tentando colocar dinheiro no mercado financeiro para melhorar liquidez como ferramenta para estimular o consumo e os investimentos e forçar o sistema a funcionar.
"Como não tem demanda privada, o governo tem que gastar mais. Mas politicamente é difícil levar isso adiante pela disputa entre os políticos democratas e republicanos", disse. "A proposta do presdiente Barack Obama de desoneração de impostos deve passar no Congresso americano, mas o aumento de gastos em infraestrutura para estimular a economia não deve ter aprovação da maioria. A briga entre políticos, que reprovam os programas de incentivo financeiro, e o Fed, o Banco Central dos Estados Unidos, pode comprometer a independência da instituição", afirmou.
Efeitos da turbulência
O resultado desses fenômenos econômicos e a busca de soluções paliativas de curto prazo para a crise têm gerado efeitos nos países emergentes, incluindo o Brasil, como a valorização de várias moedas em relação ao dólar, crescimento da oferta de crédito, estímulos ao consumo e aumento das pressões sobre os preços no varejo,com reflexos na alta dos índices de inflação.
Os mecanismos tradicionais estão totalmente quebrados e não conseguem turbinar a economia, segundo o economista-chefe do Bradesco. "Isso tem gerado medidas como o protecionismo cambial, para se defender dessa liquidez excessiva, cujo caso mais emblemático recentemente foi o da Suíça que adotou diretrizes para evitar um ataque especulativo à sua moeda", afirmou.
"Mecanismos como a elevação do IPI (Imposto sobre produtos industrializados) adotada pelo Brasil para conter a competição dos importados são uma reação legítima. No cenário atual a ortodoxia econômica vai tirar um período sabático de uns trê anos", acrescentou.
Ainda no caso do Brasil, o setor industrial está mais vulnerável, segundo os especialistas, sentindo os efeitos da volatilidade cambial e da competição com os produtos importados, mas o setor de serviços e de construção seguem aquecidos, contribuindo para manter os indicadores de inflação em alta.
"A indústria está estagnada e serviços e construção civil explodindo com a oferta de crédito",segundo Camargo, da PUC-RJ. "Como não se pode importar serviços, os preços estão muito altos, com inflação rodando a 9% ao ano. Por isso existe um risco na estratégia do Banco Central de cortar juros nesse momento", disse.
Para Barros, do Bradesco, o BC vai seguir com a estratégia inciada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 31 de agosto, de cortar da taxa de juros básica da economia, atualmente em 12% ao ano. Para ele, o que vai determinar a dimensão dos cortes será a evolução do cenário externo de crise. " A resposta vem de fora. Se a economia piorar, corta mais. Caso contrário corta-se menos, algo como 0,5 ponto percentual", avaliou o especialista.
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